[Cinema japonês] O Silêncio Não Tem Asas (1966), de Kazuo Kuroki

By rodrigo araujo - maio 17, 2014

A partir do ano de 2014, escreverei aqui neste blog, aos poucos, algumas notas acerca dos filmes que venho assistindo e pesquisando no Cinema Japonês (dos "Mestres" aos contemporâneos). Por que o interesse no cinema japonês? Lembro sempre de uma frase de um diretor nipônico, Masahiro Shinoda, que me serve de Introdução a este cinema; diz Shinoda: "Os filmes europeus se baseiam na psicologia humana; os americanos na ação e nas lutas do ser humano; os japoneses nas circunstâncias. Os filmes japoneses estão concentrados naquilo que rodeia o ser humano". Não tratarei aqui do primórdio do cinema japonês, nem de Shozo Makino (o "pai" do cinema nipônico); para isto, pode-se consultar o 1º capítulo do livro da Maria Roberta Novielli, HISTÓRIA DO CINEMA JAPONÊS, 2007, Ed. da UnB -- que recorreremos, aqui, uma vez ou outra. 

Começo aqui com um filme de 1966, de Kazuo Kuroki, um diretor muito desconhecido no público brasileiro e com obras mais desconhecidas e inacessíveis, ainda. Kuroki foi, pelo pouco que sabemos, um sobrevivente de um bombardeio norte-americano no Japão, fruto da guerra, portanto. Seu cinema traz esse traço e esse risco, a dor diluida em tela. O único filme deste diretor com legendas em português e disponível para nós é: O SILÊNCIO NÃO TEM ASAS (1966). Um filme extremamente poético e narrado pela ótica de uma larva que, em suas linhas e curvas, fotografa, blanchotianamente, as degradações e ruínas das cidades por onde cruza. Com a câmera baixa, a larva-câmera flagra as ruínas do país pós-guerra. Um abrir de asas sobre uma casa fechada que está prestes a abrir forçosamente as portas. Um voo sobre a tradição. Um ver pelo chão -- ou como se falássemos da poética de Manoel de Barros: uma poesia que nos ensina que voar é chão. Quando se fala em Japão, é comum relacioná-lo (seja na literatura, no cinema ou teatro) ao exótico (como faz a antropologia), ao medieval e seus samurais, aos gângsters (a organização japonesa "Yakuza"), ou à guerra. Kazuo Kuroki não está, aqui, preocupado em fazer um filme "histórico", ou um filme cru sobre a bomba devastadora que abriu o grande portão fechado desta casa nipônica. O filme de Kuroki é mais um poema sobre esse "espaço". Kuroki nos apresenta um filme-poesia (muito afim a um Terrence Malick, em seu "Além da linha vermelha", e até "Iwo Jima", do velho Clint Eastwood, filmes que dão uma outra coloração ao gênero "Guerra", justamente por serem filmes-poesia. Com este filme de Kazuo Kuroki, abre-se uma linda possibilidade a grandes voos por este cinema nipônico que tem muito a nos ensinar. 


















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Rodrigo Araujo,

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1 comentários

  1. Estou lendo esse excelente livro da Novielli e me interessei por procurar sobre esse filme do kuroki.
    Belo post.

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