O poeta que escreve silêncios: Arthur Rimbaud.

By rodrigo araujo - julho 26, 2010

O poeta aventureiro Arthur Rimbaud, maldito como dizem alguns, teve uma vida intensa, explosiva como dinamite, quando a poesia aflorou em seus treze anos de idade, mas apenas por um curto período, onde viveu até os trinta e sete anos. Enquanto Baudelaire pintava a floresta de símbolos, Rimbaud “escrevia os silêncios, as noites, anotava o inexprimível” em (talvez) a mais significativa obra “Une saison en enfer”, marcada pelos Délires e pelo Mau Sangue. Deve-se notar – para sintetizar (muito) essas linhas que dizem respeito à vida e contexto histórico – que as inquietações de Rimbaud refletidas em sua poética devem-se a, pelo menos, dois fatores: primeiro, a guerra entre França e Prússia, a desordem que se instala em Paris com a queda do Segundo Império e a fome nas ruas; segundo, crises do poeta que o leva a enviar uma correspondência ao poeta Verlaine com seus poemas, culminando a sua ida a Paris por pedido de Verlaine. Não obstante, convém lembrar que, na esteira do simbolismo, o poeta Verlaine sofrerá grandes influências não só de Rimbaud como também de Baudelaire.
            Muito já foi discutida a conturbada relação entre os dois poetas, bem como a projeção de ambos para a vanguarda. Fixemo-nos aqui no traço característico e fio condutor da poética de Rimbaud: a manifestação dos sentimentos, a mistura entre subjetividade e objetividade, a imersão onírica nos sonhos – ou como propõe a teoria do filósofo francês Gaston Bachelar (A Poética do Espaço, 1993) a cosmicidade nos espaços interiores do ser , nas fronteiras do devaneio (o que ele discorrerá da topofilia), além da fixação e da construção das paisagens, como observamos em Alquimia do Verbo, no meio da alucinação (que nada mais é que uma alucinação de palavras), o deserto, os vergéis queimados, o sol.
            A projeção da poética de Rimbaud para a modernidade se dá na inovação da sua linguagem poética, o modo como representar mimeticamente o real – o que tínhamos era uma representação por analogon (para usar um termo da semiótica) da realidade, como observamos no curso da história da fotografia que pôs a pintura, até então no plano mimético do real em liberdade com o advento da fotografia, puro índice fotográfico.
            Para maiores proposições e conhecimento da obra poética de Rimbaud, conferir: Ivan Junqueira, O Fio de Dédalo: ensaios, 1998, p.299; Antonio Candido, "As Transfusões de Rimbaud", In: Carlos Lima (org), Rimbaud no Brasil, 1993, p.113; Augusto de Campos, Rimbaud Livre, 2002.
            Autor de uma personalidade forte, Rimbaud constrói uma veia revolucionária em sua prosa poética Une Saison en Enfer, ou como explana Ivan Junqueira, o projeto irrealizável de Baudelaire (1998, p.305), uma partida de seu Correspondances. Transcrevo dois parágrafos, o primeiro que abre a obra, e o segundo refere-se a um trecho de "Mau Sangue":

“Ah! estou farto de tudo isso: - Mas, querido Satã, eu te conjuro a que não me fites com pupila tão irritada! e à espera das pequenas covardias atrasadas, para vós outros que admirais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou pedagógicas, para vós arranco algumas hediondas páginas do meu caderno de condenado”.

Herdo de meus antepassados, os gauleses, os olhos azuis-claros, a fronte estreita, e a falta de jeito para a luta. Sinto que minhas roupas são tão bárbaras quanto as deles. Apenas não unto a cabeleira. Os Gauleses foram esfoladores de animais, queimadores de ervas, os mais inábeis de seu tempo. Deles, eu herdo: a idolatria e o amor ao sacrilégio; - oh! todos os vícios: cólera, luxúria, - magnífica, a luxúria; - sobretudo mentira e preguiça”.


ARAUJO, RODRIGO M. S.

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