Entre algas de silêncio ou como pensar uma página vazia.

By rodrigo araujo - setembro 07, 2011


         O que dizer das algas? O que dizer? Talvez o mote deste texto que você lê seja a morte, ou até o silêncio – não precisaria logos para silêncio. Haveria de dizer que, quando penso nas algas de silêncio, penso em Ivan Junqueira, poeta e ensaísta brasileiro. Mas este texto não é sobre o poeta. E não penso só em um poeta, penso em poetas. E talvez por traz do mote esteja o objetivo desse texto, ver poetas e algas.
            Primeiro, penso no silêncio. O que dizer silêncio? Corroboro com aqueles que dizem ser difícil falar do silêncio, há o que falar em códigos verbais do silêncio que é não-verbal? (estaria seguindo os passos de um Epicuro quando diz que a morte não nos diz respeito). A outra parede que parece tornar difícil falar em verbos do silêncio é o fato de nós ocidentais sermos regidos por um logos e pela lógica (aristotélica). Mas não quero falar aqui de história da filosofia. Mesmo arriscado, aceito o desafio de dizer que é preciso transcender a lógica, arriscar a viagem para o ilógico, para o nada. Isso porque o silêncio nada mais é que nada, nulidade ou quem quiser usar a palavra “nadificação”. Falei que é difícil pensar o silêncio para nós ocidentais porque se falamos “NADA” nós compreendemos esse nada como “AUSÊNCIA”. Ex: Se não há nada na sala é porque há ausência de algo/alguém. Essa é nossa compreensão “lógica” de nada, de ausência = silêncio.
            Viu? Mas há quem não pense o nada como ausência. Esses não se operam por um sistema lógico, mas pela ilógica. Transcender para o ilógico é comprar a passagem para o nada que quer dizer. Dizer não em palavras, dizer não em verbo. Mas dizer em não-verbo. Mas, para não falar só em pessoas, a morte também é um nada, nada carregado de significados. É preciso pôr o verbo para fora, expulsá-lo, para a morte dançar no espetáculo do silêncio, no céu do nada. E o homem? Para alcançar esse estado de nada, nadificação, o homem precisa confrontar, além da morte, sua negação eterna, quando assume o papel de ser relativo frente ao absoluto, assim reduzindo-se a nada. Quem morre adentra nos campos do nada eterno.
            E os poetas? Este texto que você ainda lê quer chegar até esses poetas que estão entre as algas de silêncio e morte, poetas como o próprio Ivan Junqueira citado acima, ou um Paulo Leminski ou um Rimbaud ou uma Sandra Herzer (infelizmente pouco conhecida no meio literário) ou um Yukio Mishima escritor e dramaturgo ou tantos aqueles dos chamados poetas malditos.
            Enfim, esse texto deságua no vazio. Deságua no silêncio de cores e palavras e enterra os mortos nestas linhas que se fazem bálsamos. Queima, enlouquece, “no êxtase mudo dos místicos, na agonia dos epígonos”. Fim de um texto que é como um corvo que bica as vísceras de “alguém cujo sacrifício vale tanto quanto a epígrafe de uma página vazia”.
... Tudo some no silêncio e no azul da eternidade
Ivan Junqueira




ARAUJO, RODRIGO M. S.

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